o processo de criação

O NÓRDICO ( em processo )

A convite do teatro Gamboa Nova o espetáculo teve seu processo exibido em temporada. A participação dos espectadores se fez necessária neste molde e se deu a partir de frases ditas pelo publico em sua entrada. O ator/performer teve como desafio criar um espetáculo totalmente improvisado; texto, marcação de cena, iluminação e trilha sonora criados instantânea e simultaneamente ao vivo, na frente do publico. Thor Vaz (ator/performer) contou com a ajuda de seu co-autores Nando Zâmbia (designer de luz) e dos músicos Leopoldo Vaz Eustáquio e Tomaz Mota, os quais compuseram e executaram a trilha também ao vivo.


PROCESSO DE CRIAÇÃO, SÁBADO 8
       
       Ontem, eu e a Equipe do espetáculo O Nórdico exibimos no Teatro Gamboa Nova o nosso PROCESSO DE CRIAÇÃO que consiste basicamente de Improvisação. Durante todos os sábados de maio criaremos um novo espetáculo a partir de frases ditas pelo publico. Um novo espetáculo a cada sábado, TOTALMENTE improvisado.
       Ontem a improvisação teve um quê de humor ácido, crítico. Uma história metafórica de um jovem garoto bipolar, morador da rua 52 cuja tia era paraplégica. O garoto ficava intrigado pelo fato de presencear uma conversa de um burro (doutor) com um jumento (phd) perto da padaria onde comprava pão de todos os dias. O espetáculo de ontem abordou temas como o pré-conceito, a depressão e a obscuridade da mente humana.


PROCESSO DE CRIAÇÃO, SÁBADO 15

       Ontem, em nossa segunda apresentação no Gamboa Nova, a improvisação nos levou a construção de uma narrativa diversificada e contrastante, de forma que caso o espetáculo fosse dividido em dois atos teríamos dois universos completamente distintos, ainda que complementares e re-signifcantes um do outro.
       No primeiro bloco desenvolvemos um raciocínio linear tragicômico sobre um motorista de táxi que é incumbido de levar a mãe de um de seus clientes a um asilo. Ao chegar a residência da senhora o homem se desentende com a velha ranzinza e quando percebe que esta lhe furou o olho com uma bengala ( ele usava um olho de vidro- uma gude- que guardava de sua infância feliz) o taxista acaba por assassiná-la. A partir de então o homem vira um verdadeiro serial Killer, matando um por um os parentes da velha a quem a principio ele visita para dar a notícia do falecimento do ente. Ele anuncia a cada parente que visita que tem uma notícia boa e outra ruim. Com censo de humor apurado, sempre brinca que a notícia má é que o seu carro passava pelo mar e caiu num despenhadeiro.
       Foi na metade do espetáculo que as coisas se modificaram drasticamente e a peça ganhou um tom mais experimental e corpóreo em detrimento da comédia besteirol que vinha se estabelecendo até então. Investimos numa atmosfera mais densa, palavras desconexas, discursos ufanistas e de auto-ajuda repentinos, até retornarmos a antiga lógica com o tocar de um telefone. Nosso personagem taxista atendeu como se tivesse acabado de acordar, testemunhou ter sonhado coisas estranhas, e confirmou com o seu cliente que poderia buscar sua mãe e levá-la ao asilo. No caminho até a casa da senhora o seu carro cai num despenhadeiro e o espetáculo tem o seu fim.
       Podemos classificar o espetáculo de ontem como uma comédia do absurdo, com pontos claros de meta-teatro e uma certa influência daquilo que chamam de stand-up comedy.


PROCESSO DE CRIAÇÃO, SÁBADO DIA 22

       Hoje a nossa tragédia experimental foi sobre um astro do Rock and roll que depois de sofrer grande decepção pelo baixo número de fãs no seu show (devido á chuva e a má localização do local) resolve correr pela Orla, da Barra até Itapuã ao encontro de sua fã n°1, aquela que nunca poderia ter faltado, mas que infelizmente faltou á sua apresentação. Por ter os pulmões fracos por conta da grande quantidade de nicotina que ingere diariamente, e por ter corrido tanto tempo embaixo de chuva forte, o nosso personagem acaba se fragilizando por conta de uma tuberculose aguda. No leito do hospital ele tem delírios com o seu cão, com os profissionais de saúde que lhe cuidam, e com sua mãe Mari.
       Como de costume, lidamos todo o tempo com o conceito que supomos ser o do metateatro (por não acharmos conceituação mais apropriada), sempre recorrendo a ferramentas do teatro do Absurdo.
       Penso que o nosso grande trunfo é utilizar a realidade ao nosso favor, brincar com as sinceridades da ocasião. Não nos preocupamos em criar ilusões para o publico. Pelo contrário, nossa diversão é compartilhar com o publico aquele momento de criação pura, compartilhar aquele suspiro de vida.


PROCESSO DE CRIAÇÃO, SÁBADO DIA 29
       
       Excepcionalmente neste sábado não utilizei nenhuma frase dita pelo publico, foi uma espécie de branco repentino (muito conveniente) que me deu. Ao contrário, fui criando aleatoriamente e de forma muito espontânea, em rajadas criativas, a estória do nosso último sábado no Gamboa.
        Noticiamos a morte de um desembargador muito influente, com envolvimento na política e de grande popularidade.
        Em paralelo contamos a história de um jovem lavrador, cujo pai falecera repentimanente, aparentemente por conta de uma doença propicia de sua velhice.
        No decorrer da apresentação essas duas estórias se entrelaçaram e o suspense criado a partir deste preâmbulo foi ganhando um quê de drama policial. Como pano de fundo as ferramentas meta-teatrais constantemente exploradas.